quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Entrevista com Mino Carta para o Jornal da República na FACHA

Segue entrevista concedida por Mino, pelo telefone. Espero que gostem.

Nathalia Martins – Como foi a criação do Jornal da República?

Mino Carta – [risos] Eu sempre tive idéia de que seria possível em São Paulo um jornal diferente dos outros, ou seja, um jornal empenhado nos interesse da maioria em lugar de estar ligado naqueles da minoria. Eu sempre curti essa idéia, e enfim, então em abril de 1979 quando a “Isto É” instintivamente começou a ser um sucesso empresarial, embora fosse uma revista muito comedida nos seus gastos, feitos com terríveis economias, começou a dar lucro. Há algum tempo ela já dava lucro. Então eu cheguei no Domingo Alzugaray, que era o homem que cuidava dos negócios enquanto eu cuidava da redação da “Isto É” e propus à ele a idéia do jornal. Jantamos juntos numa noite de abril de 1979. E chegamos à conclusão Eu e ele, que era o homem dos negócios, e que portanto, tinha a chave do cofre, por menor que fosse o cofre. E ele me disse “Não, tá bom, eu acho bom”. Domingo foi um empresário bem sucedido e sobretudo foi também o diretor comercial da Abril e tinha sido em outros tempos diretor comercial da “Editora Abril”. Administrado sagaz... Mas aplicou o conceito jornal diário nos parâmetros que ele costumava aplicar à publicação de revista. Lançamos o jornal. O jornal fez uma boa campanha, teve um lançamento feliz, com uma fluência de anúncios respeitabilíssima, mas logo mostrou que jornal não se confunde com revista. Sem contar, a oposição dos demais jornais paulistanos que naturalmente tentavam semear a cizânia. É isso. Então nós lançamos o jornal no fim de agosto de 79 e o jornal foi enterrado sem solenidade no fim de janeiro de 1980.

NM – Mas, você considera que ele foi um fracasso?

MC – Não, não considero um fracasso, por que acho que no fundo, no fundo era melhor do que os outros.

NM – Mas porque você acha que não deu certo?

MC – Não deu certo por uma série de razões. Primeiro porque do ponto de vista empresarial, ele foi mal concebido, ou seja, não era possível aplicar, não estou jogando a culpa nas costas do Domingo Alzugaray, Deus me livre, até porque não acho que seria justo, na verdade nós temos que compartilhar a responsabilidade da culpa completamente. Eu de alguma maneira tenho mais responsabilidade no fracasso, porque eu insistia muito para fazer o jornal, e depois eu quis resistir enquanto ele quinze dias depois disse “Vamos fechar essa bodega.”. Eu não, insisti e prossegui na empreitada, embora estivesse claro que seu desfecho estaria longe de ser favorável. Então eu tenho muito mais responsabilidade que o Domingos, mas, de qualquer maneira eu acho que o fracasso se deveu primeiro à questão realmente empresarial. Questão essa que desaguou nas dificuldades de impressão e de distribuição do jornal, porque o jornal era impresso nas oficinas dos então “Diários Associados” tínhamos de fechar o jornal às oito da noite. A primeira página do jornal fechava às oito horas da noite e a distribuição era muito mal feita. A distribuição que pegava SP capital e alcançava os municípios mais próximos. Um reparte mínimo chegava tardiamente a Santos. Então havia dificuldades muito grandes de distribuição. Além disso, realmente, havia uma campanha venenosa conduzida pelos, digamos assim, aqueles que não chegavam a ser concorrentes porque eram muito maiores e muito mais fortes do que nós. Tudo isso contribuiu evidentemente para que o jornal entrasse em pane. Nós tínhamos pouquíssima publicidade, insuficiente para sustentar o jornal, e acabou como acabou. Essa escassa publicidade, eu não sei, não posso excluir que alguns anunciantes achassem o jornal francamente subversivo, lembremos que ainda era tempo de ditadura, mas eu acho que se nós tivéssemos tido recursos fortes, consistentes, se tivesse havido uma compreensão por parte de empresários dispostos efetivamente a se interessar pelos destinos de um país disposto a distribuir rendas, e coisas que tais, eu acho que nós teríamos sobrevivido, mas precisaríamos ter exatamente essa retaguarda financeira contígua.

NM – Você teria alguma pretensão de lançar algum projeto parecido com o Jornal da República?

MC – Não, não, absolutamente. Eu te confesso que os meus projetos no momento são muito comedidos. Eu me contento bastante com a “Carta Capital” porque acho que é uma publicação milagrosa, nesse nosso país, se você me permite. Agora, ela me satisfaz. A pequena empresa que a edita que se chama “Editora Confiança” está partindo para várias iniciativas importantes. Talvez eles incluam nos expedientes o meu nome, mas na verdade eu não tenho nada haver com essas novas publicações embora eu ache que elas são muito bem direcionadas, por exemplo, a “Carta na escola”. Agora saiu outra para o ensino fundamental. Vai sair uma sobre sustentabilidade, que são publicações muito interessantes, muito bem feitas, muito sérias, muito responsáveis e muito interessadas no país. Isso é indiscutível. Agora eu no fundo, não tenho nada haver com elas. Me basta a “Carta Capital”.

NM – Quando você criou o Jornal da República, você buscou um nome histórico para ele. Porque você escolheu esse nome para o jornal?

MC – Por vários motivos. Primeiro porque eu acho que o espírito republicano é central. Laico e republicano. Eu acho que isso é central para se criar um país digno da contemporaneidade do mundo. Além disso, eu tinha estado em Roma em 76 quando foi lançado o “Republique” italiano esse sim com um grande respaldo financeiro, mas com posições muito próximas àquelas que o jornal da república queria depois ter. O “La Repubblica” na Itália e o “Jornal da República” aqui. Eles tinham recursos financeiros extraordinários, tinha atrás do jornal um grupo de empresários dispostos realmente a apostar em alguma coisa mais substanciosa e certamente de esquerda. E o jornal da republica hoje é, juntamente com o “Corriere della Serra” o maior jornal italiano. Tem uma tiragem diária de um milhão de exemplares. E o “La Repubblica”, ou seja, “A República”, não o “Jornal da República” também me influenciou um pouco na escolha do nome.

NM – Você acredita que essa questão do nome que tem algum tipo de busca histórica, de algum estudo por trás não seja mais tão importante? Porque hoje em dia temos jornais como “Extra”, “Meia Hora”, “Expresso”, que não têm uma base histórica, uma pesquisa para ser criado esse nome. Então você acredita que não seja mais tão importante assim?

MC – Não. O nome estava no meu coração e no coração de quem me acompanhou na aventura. Havia gente notabilíssima, desde Cláudio Abramo, que era um irmão mais velho meu, um jornalista excepcional, até o Raimundo Faoro, que é um dos poucos grandes pensadores brasileiros. Então, imagine, tinha gente que me ajudava muito, até na escolha do nome.

NM – Durante as aulas nós fizemos algumas pesquisas na internet, e lemos que o nome “Jornal da República” foi vendido para o Moreira Salles. Como nem tudo o que está na rede é verdade, gostaríamos de saber se essa informação é verdadeira.

MC – É verdadeira sim. Nós fizemos, digo nós, a equipe, teve a sorte, a certa altura, por causa provavelmente de uma decisão estelar digna de um filme do, por exemplo, Frank Capra (cineasta). Deus se encontrou com São Pedro e decidiu resolver o nosso problema, porque subitamente apareceu em cena o filho do Walter Moreira Salles, o Fernando Moreira Salles, que tinha habilidades jornalísticas, tinha vontade de avançar nesse terreno e decidiu comprar a revista “Isto É”, tapando o buraco do “Jornal da República”. Essa no fundo foi a operação. Se eu fosse o Fernando Moreira Salles eu teria comprado o “Jornal da República” para continuar a sustentá-lo, por que ali havia realmente recursos para tanto. Mas ele não via serventia alguma no jornal e tinha interesse na “Isto É”, que quatro anos depois ele entregou de mãos beijadas para a “Gazeta Mercantil” e em 1988 a “Isto É” foi recomprada pelo Domingo Alzugaray. No fundo essa foi a operação. Ele tapou o buraco do “Jornal da Republica”, que era um buraco ponderável, grande, grande mesmo e com isso ficou dono da “Isto É”.

NM – Atualmente que jornal no Brasil ou no mundo você acha que seria parecido com o “Jornal da República”?

MC – Eu acho que o “Jornal da República” era o que podia ser. Era perfeito, eu acho. Tinha suas falhas, sem dúvida, mas era um jornal muito pobre, visivelmente pobre. Eu acho que no Brasil, a mídia em geral, não falo só dos jornais diários, mas a mídia em geral, sem exclusão da Globo, é ridícula. É absolutamente grotesca. É de péssima qualidade, muito mal escrita e sobretudo é uma mídia a serviço do poder, porque ela é um dos rostos do poder. Ela exprime as vontades, os interesses do poder, porque ela é poder, entende? “O Globo”, “Estadão”, a “Folha de São Paulo”, a revista “Veja”, a “Editora Abril”, tudo isso é poder no Brasil. Estão todos unidos contra os interesses reais do país. Então aqui não tem nada, aqui é um deserto, o “Deserto de Gobi” (localizado na Mongólia e nordeste da China), que é um desertozinho em comparação com o Saara. Não disse Saara, porque aí conferiria uma dimensão à mídia brasileira que ela não merece. Mas, digamos, há muitos jornais bons mundo afora, sobretudo na Europa. Excelentes jornais, enfim, mas jornais poderosos que tenham recursos financeiros notabilíssimos, então qualquer comparação é difícil com o “Jornal da República” que era um jornal de pobretões.

NM – graficamente você tem algum jornal preferido, algum jornal que você acha qu seja mais moderno?

MC – Graficamente ou com conteúdos, no jornal em geral?

NM – Na parte gráfica mesmo.

MC – Na parte gráfica? Não sei, acho que imprensa inglesa e a imprensa italiana são nesse ponto de vista os melhores.

NM – com a evolução da tecnologia, como você vê o futuro do jornal? Você acha que algum meio de comunicação vai se extinguir?

MC – Olha, eu não vejo. Até porque eu não sei como vai ser o meu futuro. Então, se meu futuro é nebuloso, imagine o futuro do mundo e da imprensa especificamente e da mídia especificamente. Eu sempre duvido que a escrita possa morrer. Mas eu tenho certeza, ao mesmo tempo, que o mundo já está vivendo uma idade média. Então a escrita não pode morrer porque ainda sou partidário da idéia de que a escrita fica realmente. E veja, mesmo a internet recorre à escrita. Quer dizer, o problema está em como os instrumentos são usados. Eu por exemplo não me aproximo de um computador e uso até hoje a minha máquina de escrever porque o computador me assusta. Ele tem uma boca aparentemente desdentada, mas disposta a me engolir a qualquer momento. Muita gente foi engolida pelo computador e não percebe, mas foi e já está sendo digerida por ele. Agora, eu acho que tudo depende de como você usa os instrumentos. O computador é um instrumento que pode ser excepcionalmente profícuo e eficaz. E também pode ser uma bobagem. Eu percebo que muita coisa é absolutamente bobagem, embora tenha também coisas que tenham substâncias que nascem, surgem e circulam graças ao computador. Mas a escrita não morre.

NM – você tem algum projeto para o futuro?

MC – [risos] Bom, eu já lhe disse. Não sei qual vai ser o meu futuro, até porque vejo que meu futuro encolhe a cada dia.

NM – Bem alguma coisa que eu não tenha perguntado sobre o “Jornal da República” que você gostaria de falar?

MC – Não, pessoalmente vou te dizer que o “Jornal da República” foi uma experiência encantadora e eu não me arrependo de nada e, portanto o “Jornal da República” é uma bela etapa. Eu me arrependo de outras, mas não dizem respeito ao jornalismo.

NM – Mas com relação ao “Jornal da República” nada?

MC – Em geral, tudo o que fiz no jornalismo eu não tenho arrependimento algum, mas eu tenho arrependimentos de outros gêneros. E tenho muitos até, e pelo menos alguns muito profundos, mas com relação ao jornalismo nada, zero.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dando continuidade ao Jogo de Carta

Por Bia Merces

Para não tornar a entrevista com o Jonas muito extensa, podendo até mesmo torná-la chata, optei pelo esquema 5x5. Seguem abaixo, as outras cinco perguntas que finalizam esse bate-papo virtual.


1 - TEVE DIFICULDADE EM ENCONTRAR MATERIAL REFERENTE A ESSE TEMA, TENDO EM VISTA QUE HÁ ALGUNS JORNAIS COM O MESMO NOME?

Existe uma dificuldade natural por se tratar de um jornal já antigo e que durou muito pouco tempo. Vale ressaltar que o "JR" só foi importante para a história da imprensa brasileira pelas pessoas que estiveram envolvidas no projeto, especialmente pelo Mino Carta, que tem uma trajetória maravilhosa, excetuando-se justamente esse fracasso que ele teve com o jornal. Foi um empreendimento ousado, muito à frente do próprio tempo. Considero-o de vanguarda, alternativo mesmo. Apesar de ter tido outros com o mesmo nome, inclusive um criado pelo pai do dramaturgo Nelson Rodrigues, o jornalista Mário Rodrigues, não há como deixar de notar a singularidade do "Jornal da República" criado por Mino Carta.


2 - NA SUA OPINIÃO, POR QUÊ O "JORNAL DA REPÚBLICA" FOI CONSIDERADO UM FRACASSO, LEVANDO-SE EM CONTA O POUCO TEMPO DE PERMANÊNCIA NO MERCADO?

Essa é a pergunta mais frequentemente feita por aqueles que pesquisam a história dessa publicação. Eu mesmo enfatizei muito essa questão no meu livro. Depois de 20 entrevistas realizadas e de incontáveis pesquisas, só tenho a dizer uma coisa: não deu certo porque faltou dinheiro. Aliás, quem disse isso a mim, dessa maneira simples e direta, foi o Clóvis Rossi, que é muito conhecido pelo trabalho na "Folha de S.Paulo" (está lá há mais de 25 anos). Entretanto, é importante frisar que ele trabalhou muitos anos no jornal "O Estado de S.Paulo", passou pela revista "IstoÉ" e fez parte do "Jornal da República", sendo inclusive um dos mais importantes lá dentro.
Se o "República" tivesse respaldo financeiro, estaria circulando até hoje, muito provavelmente. Tinha como principal referência o jornalismo europeu libertário e progressista, muito difundido na Itália pelo jornal "La Repubblica" a partir de 1974. Este, aliás, foi a inspiração até para o nome do "JR", que só não se chamou "A República" (tradução da publicação italiana) porque já existia um jornal com esse nome no Brasil.
É imperativo considerar que se tratou de uma iniciativa bastante ousada para a época, uma empreitada quixotesca, pois era algo impensável um grupo de jornalistas se unir em torno de um projeto, sustentando uma empresa sem ter por trás um forte grupo com capital para investir. Não faltavam cabeças brilhantes trabalhando. Além do próprio Mino Carta, teve Cláudio Abramo, o já citado Clóvis Rossi, Ricardo Kotscho, Paulo Markun, Humberto Werneck (uma das principais fontes para o meu trabalho, diga-se de passagem), Hélio Campos Mello, Nirlando Beirão, entre tantos outros. Era uma verdadeira seleção.
Na teoria, era para ter sido o melhor jornal brasileiro de todos os tempos. Mas foi engolido pela impiedosa lei do mercado: se o produto não é bem apresentado, se não há um esquema forte de distribuição e marketing, não há equipe que o sustente. Tecnicamente, foi um jornal que sofreu com a precariedade da gráfica dos Diários Associados (que estava em decadência) e muito também pelo voluntarismo de quem o comandava, acreditando que, naturalmente, empresários "progressistas" iriam anunciar nele e o dinheiro entraria sem grandes problemas. A realidade mostrou que não é daquela forma que se faz negócio.


3 - VOCÊ CONSIDERA O "JORNAL DA RÉPUBLICA" COMO UM MODELO A SER SEGUIDO ATUALMENTE? COMO AVALIA A ATUAÇÃO DA IMPRENSA NOS DIAS DE HOJE?

Como negócio, de forma alguma. Foi pessimamente planejado, era um empreendimento sem a menor sustentabilidade, "romântico" demais. O Jornalismo, no que se refere a questão administrativa de uma publicação, deve ser tratado puramente como negócio.
Um jornal, como foi o caso do "República", não pode ser lançado em plena São Paulo tentando concorrer com "Estadão" e "Folha", que são dois dos maiores jornais do País. É a mesma coisa que um grupo de jornalistas do Rio tentar um enfrentamento, mesmo sem aporte financeiro suficiente, com "O Globo" e o "Jornal do Brasil". É suicídio.
No começo, o "Jornal da República" teve o Domingo Alzugaray, dono da Editora Três, colocando dinheiro. Porém, ele saiu pouco tempo depois e deixou o Mino Carta e outros, como o Armando Salem, com o "abacaxi" nas mãos. Nenhum deles era empresário ou tinha capital para fazer qualquer tipo de investimento de grande porte. Persistiram durante quatro meses na base da teimosia. Mas, mesmo antes do final (janeiro de 1980), já se discutia a venda para algum grupo que tivesse condições de sustentá-lo. Foi como terem tido um filho sem condições de criá-lo e daí terem sido obrigados a entregá-lo para a adoção.
Tentaram vendê-lo para o "Diário Popular", que acabou desistindo, e depois para o Fernando Moreira Salles, do Unibanco, que acabou comprando-o exclusivamente para fechá-lo. Ele só pagou as dívidas e o encerrou, pois o que ele queria era a outra publicação que tinha como donos Mino Carta, Armando Salem e outros: a "IstoÉ". Tanto o jornal como a revista eram da Encontro Editorial, uma pequena empresa criada em 1976 para abrigar a "IstoÉ", que tinha como um dos sócios o Domingo Alzugaray. Em 1979, criaram o "República". Mas, como o Domingo saiu logo no começo do jornal, a Encontro Editorial ficou com o Mino Carta que, sem condições de sustentá-lo ao lado dos companheiros, acabou vendendo as duas publicações para alguém que tinha condições de oferecer aporte financeiro.
A imprensa atual deixa muito a desejar em vários aspectos. Infelizmente, as redações estão encolhendo. As empresas de comunicação vivem cortando gastos e qualquer redação é a maior vítima. Com redução de pessoal, a qualidade também cai.
Com maior acúmulo de funções e remunerações aquém do que seria justo, a motivação também acaba caindo.
O esforço de reportagem, aquela de campo mesmo, em que os jornalistas vão atrás e investigam, está cada vez mais raro. Com poucas exceções. Cito a revista "CartaCapital", do próprio Mino Carta, como um desses raros exemplos de jornalismo como ele deve ser praticado. É preciso repensar todo o setor, desde a formação dos jornalistas na faculdade até o próprio mercado de trabalho.


4 - SEGUNDO ALGUNS ARTIGOS E REPORTAGENS QUE TENHO LIDO, POR CONTA DESSE PROJETO, MINO CARTA ESTÁ TOTALMENTE INSERIDO NO CONTEXTO "AME-O OU DEIXO-O". O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE ELE?

Mino Carta é um excepcional jornalista, uma pessoa autêntica, de valores muito sólidos como ser humano. Italiano, se apaixonou pelo Brasil, apesar de todas as injustiças e desigualdades deste país. Tem um texto maravilhoso, um dos melhores do mundo. Sempre foi um líder nato, um jornalista com singular dom de criar publicações de sucesso. Sempre foi movido a desafios e gerou, por onde passou, seguidores, fãs e também aqueles que não gostam de seu estilo. Isso é absolutamente normal. Ninguém é unanimidade, ainda mais no jornalismo, que sofre tanto com "fogueira das vaidades", guerra de egos e afins. Mas mesmo os seus detratores não negam o talento que possui. Afinal, quem criou "Quatro Rodas", "Jornal da Tarde", "Veja", "IstoÉ", "Jornal da República" e "CartaCapital" pode ser tudo, menos alguém sem talento. Mino Carta é, ao lado de Cláudio Abramo, Alberto Dines e outros, um pioneiro da era moderna do Jornalismo brasileiro, que se fez ao longo do século XX.


5 - VOCÊ ACREDITA QUE, POR CONTA DOS INÚMEROS AVANÇOS TECNOLÓGICOS, O JORNAL IMPRESSO PODERÁ DEIXAR DE EXISTIR DAQUI A ALGUNS ANOS?

Afirmo categoricamente: o jornal impresso só deixará de existir se houver uma rigorosa política ambiental que proíba o corte de árvores para se fazer papel. Caso contrário, ele continuará existindo, pois muitas pessoas ainda preferem se informar por esse meio. Não confiam na Internet e sua pressa pela informação instantânea (muito sujeita a erros) e nem em outros veículos.
O jornal ainda tem um poder de "mídia documental", uma credibilidade que a Internet, em especial, ainda não detém. A maioria das pessoas acredita, ingenuamente, que um jornal não pode ser tão "manipulado" como a televisão, por exemplo. Ou seja, o que é publicado é, em tese, "a verdade dos fatos impressa". Entretanto, todo veículo jornalístico é objeto de manipulação não apenas de seus donos, mas também dos funcionários da empresa que o faz, seja qual for. O "Jornal da República", assim como qualquer outra publicação, foi o reflexo de seus donos e de sua redação: ousado, inteligente, à frente da própria época mas, ao mesmo tempo, ingênuo, romântico e desprovido do necessário capital para se manter.






quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Entevista Mino Carta à ABI










Mino Carta no Jornal da ABI

Por Nathalia Martins
Olá a todos!

Mino Carta "parla" para o Jornal da ABI*.
Em breve a matéria completa, mas por enquanto você pode ler aqui.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


Memória Roda Viva

Entrevista de Mino Carta ao programa "Roda Viva" da TV Cultura.
Assista a entrevista na íntegra aqui.




Essa coleção está disponível para compra junto à TV Cultura no telefone (11) 2182-3145, pelo e-mail culturaimagens@tvcultura.com.br ou no site do Submarino.

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Por Bia Merces

Entrevista com o jornalista político Jonas Gonçalves, autor do livro-reportagem "Jogo de Carta".


1 - COMO SURGIU O INTERESSE PELA CARREIRA DE JORNALISTA?

Foi algo natural. Em 1998, quando estava com 15 anos, no 1º ano do Ensino Médio, começou a surgir de maneira mais forte aquela pergunta inevitável: "que profissão devo seguir?".
Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais claro que a minha aptidão estava voltada para as Ciências Humanas, mais exatamente para o estudo de disciplinas como Geografia e História. Ao mesmo tempo, sempre tive facilidade em assimilar o aprendizado do Português, desde a Gramática até a Redação.
Então, como sempre tive gosto pela escrita e uma curiosidade muito grande em acumular conhecimentos gerais, perguntando e lendo muito, o Jornalismo apareceu como a carreira mais adequada para se seguir.
Nunca precisei nem fazer teste vocacional ou coisa do gênero. Daí me tornei até um "elemento estranho" pelo fato de já ter decidido ser jornalista ainda tão jovem, com 15, 16 anos.
As pessoas mais velhas sempre acham que os adolescentes são indecisos e impulsivos. É verdade, mas isso não é uma regra geral. Sempre tive certeza do que queria, pelo menos no que tange à profissão. Nunca fui do tipo que sonhou em ser astronauta ou bombeiro, por exemplo. Sempre tive os pés no chão e sabia o que realmente gostava.


2 - POR QUÊ VOCÊ OPTOU PELO JORNALISMO POLÍTICO?

Comecei a estudar Política nas aulas de História e Geografia na escola. Isso é algo que todos acabam tendo contato, mas muitos não se interessam em ir mais a fundo, ou seja, além do que os livros escolares transmitem.
Compreendo isso não como "preguiça", como alguns classificam, mas como uma deficiência do nosso sistema educacional, que é muito superficial e falho em diversos pontos.
Entretanto, reconheço que é preciso ter iniciativa própria para aprender de fato.
E isso eu sempre tive, pois nunca deixei de ter prazer em estudar o porquê de a História ter se encaminhado da forma como se encaminhou, tanto no Brasil como também no resto do mundo. E, além da escola, em casa eu também ia atrás, lia livros, perguntava, pesquisava. Isso antes de existir a Internet, pois só comecei a utilizá-la com 15 anos.
Ou seja, antes de 1998, eu já tinha como pesquisar, pois tinha enciclopédias em casa, por exemplo. E sempre assisti muita televisão. Portanto, consegui assimilar diversos tipos de informação ao longo do tempo. Nunca deixei de ter disposição para entender as coisas.
Desde muito cedo, reparei que as eleições, sejam elas municipais ou gerais, mexem com todos. Cidadãos só realmente o são se exercem o direito de escolher governantes e representantes dentro de um sistema democrático como o do Brasil. Entretanto, para entender como a Política funciona, é preciso estudar toda a História que a envolve, incluindo os períodos ditatoriais, de regimes de exceção, as revoluções (democráticas ou não), entre outros aspectos.
O Jornalismo é bastante amplo atualmente. Dessa forma, acredito que seja mais recomendável uma especialização em determinado campo.
Por sempre ter gostado de acompanhar a Política e os processos eleitorais, essa escolha pela área se cristalizou naturalmente.


3 - ANTES DE INGRESSAR NA FACULDADE, VOCÊ JÁ HAVIA OUVIDO FALAR NO "JORNAL DA REPÚBLICA"?

Não, na verdade eu não tinha muito conhecimento sobre a história do Jornalismo no Brasil antes da faculdade. Fora do círculo acadêmico e profissional, não há uma discussão ampla sobre o papel desse ofício na sociedade, sua trajetória e as consequências para as pessoas da atuação dos jornalistas.
Cito isso, pois qualquer publicação, ainda mais em se tratando de um jornal diário, tem a missão principal de documentar os fatos do cotidiano e, consequentemente, registrar o processo histórico. Mas a sociedade brasileira discute ainda muito pouco a respeito do tema.
No caso do "Jornal da República", que durou tão pouco tempo (não chegou nem a seis meses), nada se fala fora do círculo que mencionei.
Somente as grandes publicações e empresas (que formam a chamada "grande imprensa" ou "grande mídia") é que são realmente discutidas fora do âmbito da faculdade ou do mercado. É o caso da Rede Globo, por exemplo, que por sua dimensão e onipresença na sociedade, sempre foi tema de debates, principalmente no que se refere à atuação da emissora em fatos históricos da política nacional, como a tão comentada ajuda para o então candidato a presidente Fernando Collor de Mello, em 1989.


4 - O QUE TE MOTIVOU A FAZER O SEU PROJETO FINAL, COM BASE NESSE TEMA?

Comecei a pensar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou Projeto Experimental, como é chamado na Cásper Líbero, no terceiro ano da faculdade, em 2004. E a minha inclinação sempre foi a de fazer algo a respeito da história do Jornalismo no Brasil. Li o livro "Notícias do Planalto", do Mario Sergio Conti (escrito em 1999), que conta com riqueza de detalhes não só o período em que Fernando Collor foi o centro das atenções na imprensa brasileira, como também toda a história dos veículos de comunicação e de jornalistas, especialmente aqueles que atuaram (ou ainda atuam) na cobertura da Política.
Não pensei apenas no "Jornal da República" como possível tema a ser escolhido. Por muito pouco, não resolvi fazer sobre a Rede Manchete. Talvez os mais jovens não se lembrem ou não saibam, mas foi a grande concorrente da Globo durante anos, especialmente entre o final da década de 1980 e o início da de 1990. E foi muito marcante para a minha geração por toda a sua programação e trajetória meteórica. Durou apenas 16 anos (1983 a 1999), o que para uma emissora de TV é muito pouco. Porém, possui uma história muito rica, já que houve desdobramentos depois de sua falência.
Entretanto, pelo fato de a emissora ter tido sede no Rio de Janeiro, seria muito complicado para viajar e fazer o trabalho de reportagem de campo. Então, tive que optar por um tema "paulistano", ou seja, mais acessível a minha realidade. Daí veio a idéia do "Jornal da República", que fiquei conhecendo ao pesquisar a vida do jornalista Mino Carta, o criador da publicação. Iniciei já em 2004 o trabalho de pesquisa, apresentei um pré-projeto, que foi aprovado. Então, fui em busca de informações. Pesquisei tudo o que foi possível na Internet e acabei conhecendo um outro livro a respeito do jornal, feito por uma jornalista (Vera Lúcia Rodrigues) que fez uma tese de mestrado na USP a respeito.
Coincidentemente, ela publicou um livro com a tese em 2004, por ocasião dos 25 anos de criação do "Jornal da República". Foi exatamente no dia 27 de agosto, dia em que o jornal começou a circular, que foi realizado o lançamento, no Conjunto Nacional, em São Paulo. Naquele evento, conheci pessoalmente o Mino Carta e outros que trabalharam com ele naquela época, em 1979. Daí para frente, o projeto só cresceu.


5 - QUAL FOI A ETAPA MAIS DIFÍCIL DESSE TRABALHO?

Sem dúvida, foi a seleção de fatos que iriam ser abordados no livro. Nesse aspecto, tive uma ajuda fundamental de meu orientador, o professor Celso Unzelte. Ele foi muito importante quanto a escolha de abordagens, quais fatos deveriam ser levados em consideração. Toda proposta, inicialmente, é muito ampla. Contudo, é necessário que o trabalho jornalístico, como nesse caso (um livro-reportagem) precisa ter o que se chama, no jargão jornalístico, de "escopo". Ou seja, qual é o objetivo desse trabalho? No caso de "Jogo de Carta - Os Bastidores do Jornal da República", é justamente desvendar o que ocorreu na redação do jornal, como era o cotidiano dos jornalistas, quais eram os ideais que os moviam. Não havia um trabalho que tivesse chegado tão fundo.
Em 2000, na mesma Faculdade Cásper Líbero, um grupo de três alunas (Candice Quinelato Baptista, Fernanda Helena Costa Kanawati e Viviane Akemi Uemura) elaborou uma monografia a respeito do "Jornal da República". Porém, era um estudo essencialmente acadêmico sobre como o "JR" poderia ser classificado dentro do campo jornalístico brasileiro. Obviamente, teve entrevistas e análise de bastidores, mas não algo semelhante ao que fiz.
Mas, é importante frisar: tanto esta monografia quanto o livro de Vera Lúcia Rodrigues foram duas importantíssimas fontes para o desenvolvimento do meu trabalho. O apoio delas foi fundamental, assim como o de todas as pessoas que entrevistei.