quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Carregando a página...

Por Bia Merces

Entrevista com o jornalista político Jonas Gonçalves, autor do livro-reportagem "Jogo de Carta".


1 - COMO SURGIU O INTERESSE PELA CARREIRA DE JORNALISTA?

Foi algo natural. Em 1998, quando estava com 15 anos, no 1º ano do Ensino Médio, começou a surgir de maneira mais forte aquela pergunta inevitável: "que profissão devo seguir?".
Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais claro que a minha aptidão estava voltada para as Ciências Humanas, mais exatamente para o estudo de disciplinas como Geografia e História. Ao mesmo tempo, sempre tive facilidade em assimilar o aprendizado do Português, desde a Gramática até a Redação.
Então, como sempre tive gosto pela escrita e uma curiosidade muito grande em acumular conhecimentos gerais, perguntando e lendo muito, o Jornalismo apareceu como a carreira mais adequada para se seguir.
Nunca precisei nem fazer teste vocacional ou coisa do gênero. Daí me tornei até um "elemento estranho" pelo fato de já ter decidido ser jornalista ainda tão jovem, com 15, 16 anos.
As pessoas mais velhas sempre acham que os adolescentes são indecisos e impulsivos. É verdade, mas isso não é uma regra geral. Sempre tive certeza do que queria, pelo menos no que tange à profissão. Nunca fui do tipo que sonhou em ser astronauta ou bombeiro, por exemplo. Sempre tive os pés no chão e sabia o que realmente gostava.


2 - POR QUÊ VOCÊ OPTOU PELO JORNALISMO POLÍTICO?

Comecei a estudar Política nas aulas de História e Geografia na escola. Isso é algo que todos acabam tendo contato, mas muitos não se interessam em ir mais a fundo, ou seja, além do que os livros escolares transmitem.
Compreendo isso não como "preguiça", como alguns classificam, mas como uma deficiência do nosso sistema educacional, que é muito superficial e falho em diversos pontos.
Entretanto, reconheço que é preciso ter iniciativa própria para aprender de fato.
E isso eu sempre tive, pois nunca deixei de ter prazer em estudar o porquê de a História ter se encaminhado da forma como se encaminhou, tanto no Brasil como também no resto do mundo. E, além da escola, em casa eu também ia atrás, lia livros, perguntava, pesquisava. Isso antes de existir a Internet, pois só comecei a utilizá-la com 15 anos.
Ou seja, antes de 1998, eu já tinha como pesquisar, pois tinha enciclopédias em casa, por exemplo. E sempre assisti muita televisão. Portanto, consegui assimilar diversos tipos de informação ao longo do tempo. Nunca deixei de ter disposição para entender as coisas.
Desde muito cedo, reparei que as eleições, sejam elas municipais ou gerais, mexem com todos. Cidadãos só realmente o são se exercem o direito de escolher governantes e representantes dentro de um sistema democrático como o do Brasil. Entretanto, para entender como a Política funciona, é preciso estudar toda a História que a envolve, incluindo os períodos ditatoriais, de regimes de exceção, as revoluções (democráticas ou não), entre outros aspectos.
O Jornalismo é bastante amplo atualmente. Dessa forma, acredito que seja mais recomendável uma especialização em determinado campo.
Por sempre ter gostado de acompanhar a Política e os processos eleitorais, essa escolha pela área se cristalizou naturalmente.


3 - ANTES DE INGRESSAR NA FACULDADE, VOCÊ JÁ HAVIA OUVIDO FALAR NO "JORNAL DA REPÚBLICA"?

Não, na verdade eu não tinha muito conhecimento sobre a história do Jornalismo no Brasil antes da faculdade. Fora do círculo acadêmico e profissional, não há uma discussão ampla sobre o papel desse ofício na sociedade, sua trajetória e as consequências para as pessoas da atuação dos jornalistas.
Cito isso, pois qualquer publicação, ainda mais em se tratando de um jornal diário, tem a missão principal de documentar os fatos do cotidiano e, consequentemente, registrar o processo histórico. Mas a sociedade brasileira discute ainda muito pouco a respeito do tema.
No caso do "Jornal da República", que durou tão pouco tempo (não chegou nem a seis meses), nada se fala fora do círculo que mencionei.
Somente as grandes publicações e empresas (que formam a chamada "grande imprensa" ou "grande mídia") é que são realmente discutidas fora do âmbito da faculdade ou do mercado. É o caso da Rede Globo, por exemplo, que por sua dimensão e onipresença na sociedade, sempre foi tema de debates, principalmente no que se refere à atuação da emissora em fatos históricos da política nacional, como a tão comentada ajuda para o então candidato a presidente Fernando Collor de Mello, em 1989.


4 - O QUE TE MOTIVOU A FAZER O SEU PROJETO FINAL, COM BASE NESSE TEMA?

Comecei a pensar no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ou Projeto Experimental, como é chamado na Cásper Líbero, no terceiro ano da faculdade, em 2004. E a minha inclinação sempre foi a de fazer algo a respeito da história do Jornalismo no Brasil. Li o livro "Notícias do Planalto", do Mario Sergio Conti (escrito em 1999), que conta com riqueza de detalhes não só o período em que Fernando Collor foi o centro das atenções na imprensa brasileira, como também toda a história dos veículos de comunicação e de jornalistas, especialmente aqueles que atuaram (ou ainda atuam) na cobertura da Política.
Não pensei apenas no "Jornal da República" como possível tema a ser escolhido. Por muito pouco, não resolvi fazer sobre a Rede Manchete. Talvez os mais jovens não se lembrem ou não saibam, mas foi a grande concorrente da Globo durante anos, especialmente entre o final da década de 1980 e o início da de 1990. E foi muito marcante para a minha geração por toda a sua programação e trajetória meteórica. Durou apenas 16 anos (1983 a 1999), o que para uma emissora de TV é muito pouco. Porém, possui uma história muito rica, já que houve desdobramentos depois de sua falência.
Entretanto, pelo fato de a emissora ter tido sede no Rio de Janeiro, seria muito complicado para viajar e fazer o trabalho de reportagem de campo. Então, tive que optar por um tema "paulistano", ou seja, mais acessível a minha realidade. Daí veio a idéia do "Jornal da República", que fiquei conhecendo ao pesquisar a vida do jornalista Mino Carta, o criador da publicação. Iniciei já em 2004 o trabalho de pesquisa, apresentei um pré-projeto, que foi aprovado. Então, fui em busca de informações. Pesquisei tudo o que foi possível na Internet e acabei conhecendo um outro livro a respeito do jornal, feito por uma jornalista (Vera Lúcia Rodrigues) que fez uma tese de mestrado na USP a respeito.
Coincidentemente, ela publicou um livro com a tese em 2004, por ocasião dos 25 anos de criação do "Jornal da República". Foi exatamente no dia 27 de agosto, dia em que o jornal começou a circular, que foi realizado o lançamento, no Conjunto Nacional, em São Paulo. Naquele evento, conheci pessoalmente o Mino Carta e outros que trabalharam com ele naquela época, em 1979. Daí para frente, o projeto só cresceu.


5 - QUAL FOI A ETAPA MAIS DIFÍCIL DESSE TRABALHO?

Sem dúvida, foi a seleção de fatos que iriam ser abordados no livro. Nesse aspecto, tive uma ajuda fundamental de meu orientador, o professor Celso Unzelte. Ele foi muito importante quanto a escolha de abordagens, quais fatos deveriam ser levados em consideração. Toda proposta, inicialmente, é muito ampla. Contudo, é necessário que o trabalho jornalístico, como nesse caso (um livro-reportagem) precisa ter o que se chama, no jargão jornalístico, de "escopo". Ou seja, qual é o objetivo desse trabalho? No caso de "Jogo de Carta - Os Bastidores do Jornal da República", é justamente desvendar o que ocorreu na redação do jornal, como era o cotidiano dos jornalistas, quais eram os ideais que os moviam. Não havia um trabalho que tivesse chegado tão fundo.
Em 2000, na mesma Faculdade Cásper Líbero, um grupo de três alunas (Candice Quinelato Baptista, Fernanda Helena Costa Kanawati e Viviane Akemi Uemura) elaborou uma monografia a respeito do "Jornal da República". Porém, era um estudo essencialmente acadêmico sobre como o "JR" poderia ser classificado dentro do campo jornalístico brasileiro. Obviamente, teve entrevistas e análise de bastidores, mas não algo semelhante ao que fiz.
Mas, é importante frisar: tanto esta monografia quanto o livro de Vera Lúcia Rodrigues foram duas importantíssimas fontes para o desenvolvimento do meu trabalho. O apoio delas foi fundamental, assim como o de todas as pessoas que entrevistei.

Nenhum comentário: