Para não tornar a entrevista com o Jonas muito extensa, podendo até mesmo torná-la chata, optei pelo esquema 5x5. Seguem abaixo, as outras cinco perguntas que finalizam esse bate-papo virtual.
1 - TEVE DIFICULDADE EM ENCONTRAR MATERIAL REFERENTE A ESSE TEMA, TENDO EM VISTA QUE HÁ ALGUNS JORNAIS COM O MESMO NOME?
Existe uma dificuldade natural por se tratar de um jornal já antigo e que durou muito pouco tempo. Vale ressaltar que o "JR" só foi importante para a história da imprensa brasileira pelas pessoas que estiveram envolvidas no projeto, especialmente pelo Mino Carta, que tem uma trajetória maravilhosa, excetuando-se justamente esse fracasso que ele teve com o jornal. Foi um empreendimento ousado, muito à frente do próprio tempo. Considero-o de vanguarda, alternativo mesmo. Apesar de ter tido outros com o mesmo nome, inclusive um criado pelo pai do dramaturgo Nelson Rodrigues, o jornalista Mário Rodrigues, não há como deixar de notar a singularidade do "Jornal da República" criado por Mino Carta.
Essa é a pergunta mais frequentemente feita por aqueles que pesquisam a história dessa publicação. Eu mesmo enfatizei muito essa questão no meu livro. Depois de 20 entrevistas realizadas e de incontáveis pesquisas, só tenho a dizer uma coisa: não deu certo porque faltou dinheiro. Aliás, quem disse isso a mim, dessa maneira simples e direta, foi o Clóvis Rossi, que é muito conhecido pelo trabalho na "Folha de S.Paulo" (está lá há mais de 25 anos). Entretanto, é importante frisar que ele trabalhou muitos anos no jornal "O Estado de S.Paulo", passou pela revista "IstoÉ" e fez parte do "Jornal da República", sendo inclusive um dos mais importantes lá dentro.
Se o "República" tivesse respaldo financeiro, estaria circulando até hoje, muito provavelmente. Tinha como principal referência o jornalismo europeu libertário e progressista, muito difundido na Itália pelo jornal "La Repubblica" a partir de 1974. Este, aliás, foi a inspiração até para o nome do "JR", que só não se chamou "A República" (tradução da publicação italiana) porque já existia um jornal com esse nome no Brasil.
É imperativo considerar que se tratou de uma iniciativa bastante ousada para a época, uma empreitada quixotesca, pois era algo impensável um grupo de jornalistas se unir em torno de um projeto, sustentando uma empresa sem ter por trás um forte grupo com capital para investir. Não faltavam cabeças brilhantes trabalhando. Além do próprio Mino Carta, teve Cláudio Abramo, o já citado Clóvis Rossi, Ricardo Kotscho, Paulo Markun, Humberto Werneck (uma das principais fontes para o meu trabalho, diga-se de passagem), Hélio Campos Mello, Nirlando Beirão, entre tantos outros. Era uma verdadeira seleção.
Na teoria, era para ter sido o melhor jornal brasileiro de todos os tempos. Mas foi engolido pela impiedosa lei do mercado: se o produto não é bem apresentado, se não há um esquema forte de distribuição e marketing, não há equipe que o sustente. Tecnicamente, foi um jornal que sofreu com a precariedade da gráfica dos Diários Associados (que estava em decadência) e muito também pelo voluntarismo de quem o comandava, acreditando que, naturalmente, empresários "progressistas" iriam anunciar nele e o dinheiro entraria sem grandes problemas. A realidade mostrou que não é daquela forma que se faz negócio.
Mino Carta é um excepcional jornalista, uma pessoa autêntica, de valores muito sólidos como ser humano. Italiano, se apaixonou pelo Brasil, apesar de todas as injustiças e desigualdades deste país. Tem um texto maravilhoso, um dos melhores do mundo. Sempre foi um líder nato, um jornalista com singular dom de criar publicações de sucesso. Sempre foi movido a desafios e gerou, por onde passou, seguidores, fãs e também aqueles que não gostam de seu estilo. Isso é absolutamente normal. Ninguém é unanimidade, ainda mais no jornalismo, que sofre tanto com "fogueira das vaidades", guerra de egos e afins. Mas mesmo os seus detratores não negam o talento que possui. Afinal, quem criou "Quatro Rodas", "Jornal da Tarde", "Veja", "IstoÉ", "Jornal da República" e "CartaCapital" pode ser tudo, menos alguém sem talento. Mino Carta é, ao lado de Cláudio Abramo, Alberto Dines e outros, um pioneiro da era moderna do Jornalismo brasileiro, que se fez ao longo do século XX.
Afirmo categoricamente: o jornal impresso só deixará de existir se houver uma rigorosa política ambiental que proíba o corte de árvores para se fazer papel. Caso contrário, ele continuará existindo, pois muitas pessoas ainda preferem se informar por esse meio. Não confiam na Internet e sua pressa pela informação instantânea (muito sujeita a erros) e nem em outros veículos.
O jornal ainda tem um poder de "mídia documental", uma credibilidade que a Internet, em especial, ainda não detém. A maioria das pessoas acredita, ingenuamente, que um jornal não pode ser tão "manipulado" como a televisão, por exemplo. Ou seja, o que é publicado é, em tese, "a verdade dos fatos impressa". Entretanto, todo veículo jornalístico é objeto de manipulação não apenas de seus donos, mas também dos funcionários da empresa que o faz, seja qual for. O "Jornal da República", assim como qualquer outra publicação, foi o reflexo de seus donos e de sua redação: ousado, inteligente, à frente da própria época mas, ao mesmo tempo, ingênuo, romântico e desprovido do necessário capital para se manter.
2 - NA SUA OPINIÃO, POR QUÊ O "JORNAL DA REPÚBLICA" FOI CONSIDERADO UM FRACASSO, LEVANDO-SE EM CONTA O POUCO TEMPO DE PERMANÊNCIA NO MERCADO?
Essa é a pergunta mais frequentemente feita por aqueles que pesquisam a história dessa publicação. Eu mesmo enfatizei muito essa questão no meu livro. Depois de 20 entrevistas realizadas e de incontáveis pesquisas, só tenho a dizer uma coisa: não deu certo porque faltou dinheiro. Aliás, quem disse isso a mim, dessa maneira simples e direta, foi o Clóvis Rossi, que é muito conhecido pelo trabalho na "Folha de S.Paulo" (está lá há mais de 25 anos). Entretanto, é importante frisar que ele trabalhou muitos anos no jornal "O Estado de S.Paulo", passou pela revista "IstoÉ" e fez parte do "Jornal da República", sendo inclusive um dos mais importantes lá dentro.
Se o "República" tivesse respaldo financeiro, estaria circulando até hoje, muito provavelmente. Tinha como principal referência o jornalismo europeu libertário e progressista, muito difundido na Itália pelo jornal "La Repubblica" a partir de 1974. Este, aliás, foi a inspiração até para o nome do "JR", que só não se chamou "A República" (tradução da publicação italiana) porque já existia um jornal com esse nome no Brasil.
É imperativo considerar que se tratou de uma iniciativa bastante ousada para a época, uma empreitada quixotesca, pois era algo impensável um grupo de jornalistas se unir em torno de um projeto, sustentando uma empresa sem ter por trás um forte grupo com capital para investir. Não faltavam cabeças brilhantes trabalhando. Além do próprio Mino Carta, teve Cláudio Abramo, o já citado Clóvis Rossi, Ricardo Kotscho, Paulo Markun, Humberto Werneck (uma das principais fontes para o meu trabalho, diga-se de passagem), Hélio Campos Mello, Nirlando Beirão, entre tantos outros. Era uma verdadeira seleção.
Na teoria, era para ter sido o melhor jornal brasileiro de todos os tempos. Mas foi engolido pela impiedosa lei do mercado: se o produto não é bem apresentado, se não há um esquema forte de distribuição e marketing, não há equipe que o sustente. Tecnicamente, foi um jornal que sofreu com a precariedade da gráfica dos Diários Associados (que estava em decadência) e muito também pelo voluntarismo de quem o comandava, acreditando que, naturalmente, empresários "progressistas" iriam anunciar nele e o dinheiro entraria sem grandes problemas. A realidade mostrou que não é daquela forma que se faz negócio.
3 - VOCÊ CONSIDERA O "JORNAL DA RÉPUBLICA" COMO UM MODELO A SER SEGUIDO ATUALMENTE? COMO AVALIA A ATUAÇÃO DA IMPRENSA NOS DIAS DE HOJE?
Como negócio, de forma alguma. Foi pessimamente planejado, era um empreendimento sem a menor sustentabilidade, "romântico" demais. O Jornalismo, no que se refere a questão administrativa de uma publicação, deve ser tratado puramente como negócio.
Um jornal, como foi o caso do "República", não pode ser lançado em plena São Paulo tentando concorrer com "Estadão" e "Folha", que são dois dos maiores jornais do País. É a mesma coisa que um grupo de jornalistas do Rio tentar um enfrentamento, mesmo sem aporte financeiro suficiente, com "O Globo" e o "Jornal do Brasil". É suicídio.
No começo, o "Jornal da República" teve o Domingo Alzugaray, dono da Editora Três, colocando dinheiro. Porém, ele saiu pouco tempo depois e deixou o Mino Carta e outros, como o Armando Salem, com o "abacaxi" nas mãos. Nenhum deles era empresário ou tinha capital para fazer qualquer tipo de investimento de grande porte. Persistiram durante quatro meses na base da teimosia. Mas, mesmo antes do final (janeiro de 1980), já se discutia a venda para algum grupo que tivesse condições de sustentá-lo. Foi como terem tido um filho sem condições de criá-lo e daí terem sido obrigados a entregá-lo para a adoção.
Tentaram vendê-lo para o "Diário Popular", que acabou desistindo, e depois para o Fernando Moreira Salles, do Unibanco, que acabou comprando-o exclusivamente para fechá-lo. Ele só pagou as dívidas e o encerrou, pois o que ele queria era a outra publicação que tinha como donos Mino Carta, Armando Salem e outros: a "IstoÉ". Tanto o jornal como a revista eram da Encontro Editorial, uma pequena empresa criada em 1976 para abrigar a "IstoÉ", que tinha como um dos sócios o Domingo Alzugaray. Em 1979, criaram o "República". Mas, como o Domingo saiu logo no começo do jornal, a Encontro Editorial ficou com o Mino Carta que, sem condições de sustentá-lo ao lado dos companheiros, acabou vendendo as duas publicações para alguém que tinha condições de oferecer aporte financeiro.
A imprensa atual deixa muito a desejar em vários aspectos. Infelizmente, as redações estão encolhendo. As empresas de comunicação vivem cortando gastos e qualquer redação é a maior vítima. Com redução de pessoal, a qualidade também cai.
Com maior acúmulo de funções e remunerações aquém do que seria justo, a motivação também acaba caindo.
O esforço de reportagem, aquela de campo mesmo, em que os jornalistas vão atrás e investigam, está cada vez mais raro. Com poucas exceções. Cito a revista "CartaCapital", do próprio Mino Carta, como um desses raros exemplos de jornalismo como ele deve ser praticado. É preciso repensar todo o setor, desde a formação dos jornalistas na faculdade até o próprio mercado de trabalho.
Um jornal, como foi o caso do "República", não pode ser lançado em plena São Paulo tentando concorrer com "Estadão" e "Folha", que são dois dos maiores jornais do País. É a mesma coisa que um grupo de jornalistas do Rio tentar um enfrentamento, mesmo sem aporte financeiro suficiente, com "O Globo" e o "Jornal do Brasil". É suicídio.
No começo, o "Jornal da República" teve o Domingo Alzugaray, dono da Editora Três, colocando dinheiro. Porém, ele saiu pouco tempo depois e deixou o Mino Carta e outros, como o Armando Salem, com o "abacaxi" nas mãos. Nenhum deles era empresário ou tinha capital para fazer qualquer tipo de investimento de grande porte. Persistiram durante quatro meses na base da teimosia. Mas, mesmo antes do final (janeiro de 1980), já se discutia a venda para algum grupo que tivesse condições de sustentá-lo. Foi como terem tido um filho sem condições de criá-lo e daí terem sido obrigados a entregá-lo para a adoção.
Tentaram vendê-lo para o "Diário Popular", que acabou desistindo, e depois para o Fernando Moreira Salles, do Unibanco, que acabou comprando-o exclusivamente para fechá-lo. Ele só pagou as dívidas e o encerrou, pois o que ele queria era a outra publicação que tinha como donos Mino Carta, Armando Salem e outros: a "IstoÉ". Tanto o jornal como a revista eram da Encontro Editorial, uma pequena empresa criada em 1976 para abrigar a "IstoÉ", que tinha como um dos sócios o Domingo Alzugaray. Em 1979, criaram o "República". Mas, como o Domingo saiu logo no começo do jornal, a Encontro Editorial ficou com o Mino Carta que, sem condições de sustentá-lo ao lado dos companheiros, acabou vendendo as duas publicações para alguém que tinha condições de oferecer aporte financeiro.
A imprensa atual deixa muito a desejar em vários aspectos. Infelizmente, as redações estão encolhendo. As empresas de comunicação vivem cortando gastos e qualquer redação é a maior vítima. Com redução de pessoal, a qualidade também cai.
Com maior acúmulo de funções e remunerações aquém do que seria justo, a motivação também acaba caindo.
O esforço de reportagem, aquela de campo mesmo, em que os jornalistas vão atrás e investigam, está cada vez mais raro. Com poucas exceções. Cito a revista "CartaCapital", do próprio Mino Carta, como um desses raros exemplos de jornalismo como ele deve ser praticado. É preciso repensar todo o setor, desde a formação dos jornalistas na faculdade até o próprio mercado de trabalho.
4 - SEGUNDO ALGUNS ARTIGOS E REPORTAGENS QUE TENHO LIDO, POR CONTA DESSE PROJETO, MINO CARTA ESTÁ TOTALMENTE INSERIDO NO CONTEXTO "AME-O OU DEIXO-O". O QUE VOCÊ TEM A DIZER SOBRE ELE?
Mino Carta é um excepcional jornalista, uma pessoa autêntica, de valores muito sólidos como ser humano. Italiano, se apaixonou pelo Brasil, apesar de todas as injustiças e desigualdades deste país. Tem um texto maravilhoso, um dos melhores do mundo. Sempre foi um líder nato, um jornalista com singular dom de criar publicações de sucesso. Sempre foi movido a desafios e gerou, por onde passou, seguidores, fãs e também aqueles que não gostam de seu estilo. Isso é absolutamente normal. Ninguém é unanimidade, ainda mais no jornalismo, que sofre tanto com "fogueira das vaidades", guerra de egos e afins. Mas mesmo os seus detratores não negam o talento que possui. Afinal, quem criou "Quatro Rodas", "Jornal da Tarde", "Veja", "IstoÉ", "Jornal da República" e "CartaCapital" pode ser tudo, menos alguém sem talento. Mino Carta é, ao lado de Cláudio Abramo, Alberto Dines e outros, um pioneiro da era moderna do Jornalismo brasileiro, que se fez ao longo do século XX.
5 - VOCÊ ACREDITA QUE, POR CONTA DOS INÚMEROS AVANÇOS TECNOLÓGICOS, O JORNAL IMPRESSO PODERÁ DEIXAR DE EXISTIR DAQUI A ALGUNS ANOS?
Afirmo categoricamente: o jornal impresso só deixará de existir se houver uma rigorosa política ambiental que proíba o corte de árvores para se fazer papel. Caso contrário, ele continuará existindo, pois muitas pessoas ainda preferem se informar por esse meio. Não confiam na Internet e sua pressa pela informação instantânea (muito sujeita a erros) e nem em outros veículos.
O jornal ainda tem um poder de "mídia documental", uma credibilidade que a Internet, em especial, ainda não detém. A maioria das pessoas acredita, ingenuamente, que um jornal não pode ser tão "manipulado" como a televisão, por exemplo. Ou seja, o que é publicado é, em tese, "a verdade dos fatos impressa". Entretanto, todo veículo jornalístico é objeto de manipulação não apenas de seus donos, mas também dos funcionários da empresa que o faz, seja qual for. O "Jornal da República", assim como qualquer outra publicação, foi o reflexo de seus donos e de sua redação: ousado, inteligente, à frente da própria época mas, ao mesmo tempo, ingênuo, romântico e desprovido do necessário capital para se manter.
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